Fenômeno dos negócios e do marketing, a banda paulistana Restart usa a força das redes sociais para fazer fortuna com shows, CDs, DVDs, licenciamento, comércio eletrônico, livros, publicidade e, em breve, cinema.
Mocinhas
chorando, gritinhos histéricos, pulinhos e sorrisinhos. Todas as vezes
em que eles entram no palco para apresentar um de seus shows é assim.
Para ser mais exato, não apenas no palco, mas também no auditório da
RedeTV!, emissora na qual comandam, desde o mês passado, um programa
diário chamado Estação Teen. Embora bem jovens, todos na casa dos 20
anos, os quatro garotos da banda paulistana Restart já se acostumaram ao
sucesso. Thomas, Pe Lu, Pe Lanza e Koba são convidados com frequência
para entrevistas em atrações da tevê. Num giro dominical do controle
remoto, é possível vê-los no programa do Faustão, da Rede Globo, no de
Anna Hickmann, na Record, ou no de Eliana, no SBT.
Houve
até uma ocasião em que Silvio Santos colou na testa uma figurinha do
grupo, que havia sido contratado para fazer propaganda da Tele Sena.
“Olha o Restart aqui”, disse o “patrão” às colegas de trabalho, durante
seu programa dominical, apontando para a figurinha. “Que Roberto Carlos
nada”, afirmou Silvio. “Meu negócio é com esses daqui, ó.” A utilização
da imagem do grupo – cujo público-alvo são adolescentes – numa campanha
de títulos de capitalização gerou polêmica e foi retirada do ar pelo
Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar).
Independentemente
do possível exagero, o episódio foi mais uma demonstração do poder
midiático do Restart, um conjunto juvenil fundado em 2008 que é um
fenômeno do mundo dos negócios. Com
mais de 500 itens licenciados, entre camisetas, relógios, celular e até
edredon, a marca Restart já movimentou R$ 200 milhões no varejo nos
últimos dois anos, segundo a empresa Angelotti Licensing &
Entertainment Business. O grupo também reforça a conta bancária com
campanhas publicitárias, patrocínios, loja virtual própria, shows, CDs e
DVDs, entre outras fontes.
A
capacidade de gerar receita é tamanha que a banda lançou, em 2010, o
livro Restart – coração na mão, a história completa da banda (Editora
Benvirá, do grupo Saraiva), que vendeu 50 mil exemplares, algo
extraordinário para os padrões do mercado editorial brasileiro. O
segundo título, De carona com o Restart, já está a caminho. Fotográfica,
a obra é editada pela Planeta e será lançada na Bienal do Livro, em
agosto, com tiragem de 50 mil cópias. As investidas de marketing terão
mais um capítulo em breve. O Restart será protagonista de um
longa-metragem dirigido por Heitor Dhalia, de O cheiro do ralo. Como o
projeto está na fase de captação de patrocínios, ainda não há uma data
de lançamento definida.
GERAÇÃO DIGITAL Se
hoje o grupo é um estouro midiático, há um aspecto que torna a sua
história muito peculiar: trata-se de uma banda tipicamente da geração
digital. O Restart alcançou o sucesso graças às redes sociais e hoje
mescla em suas estratégias o uso das mídias digitais e ferramentas
tradicionais do show business, como tevê, rádio e merchandising. A
palavra “estratégia” não é usada por acaso. Embora tenha alcançado um
relativo sucesso de público de modo independente, foi a partir do
momento em que encontrou um cérebro empresarial que a banda explodiu. No
caso, o cérebro atende pelo nome de Marcos Maynard, sócio da Maynard
Enterprise, agência paulistana de gerenciamento de carreiras de
artistas.
Ex-presidente
de grandes gravadoras como PolyGram, CBS e Sony, Maynard conheceu o
Restart em 2010, quando recebeu um CD da banda das mãos de uma amiga.
Curioso, foi assistir a um show dos meninos. E se surpreendeu com a
reação da galera ao hit virtual Levo comigo. “Vi meninas enlouquecidas,
chorando e cantando a música de caras que não tinham tocado em nenhuma
rádio do planeta”, afirma Maynard. Dos artistas com quem trabalhou, ele
diz ter visto um frenesi desse tipo só com o Paulo Ricardo, vocalista do
RPM, e Xanddy, do Harmonia do Samba. “Isso sem falar em Menudos, Dominó
e, claro, nos Beatles, o maior fenômeno de fãs de todos os tempos”,
diz.
Depois
de testemunhar o poder de atração do Restart, Maynard contratou a banda
e a levou para um estúdio. “Pensei na época: se com uma música mal
gravada eles já tinham quase um milhão de acessos no MySpace, imagine
quando isso for feito com um tratamento profissional?”, diz Maynard.
Hoje o grupo registra mais de 70 milhões de acessos no YouTube. A força
do Restart na rede é parte fundamental no plano traçado por Maynard, que
cuida de todo o processo de negócios, passando pela divulgação, agenda
de shows e negociações publicitárias. Os resultados não demoraram a
aparecer. Lançado em 2009, o álbum de estreia do grupo, que leva o nome
da banda, recebeu discos de ouro e de platina pelas vendas de 150 mil
cópias.
Os
shows começaram a pipocar pelo Brasil inteiro. A gravação de nove
músicas em espanhol garantiu novos fãs, aparições na tevê e shows no
México, na Argentina e no Uruguai. Além disso, a banda foi a grande
vencedora do Video Music Brasil (VMB) no mesmo ano, promovido pela MTV.
Em Recomeçar, eles cantam: “E hoje sei, sei sei/ não importa mais/porque
não vai, vai, vai/voltar atrás/o que restou em mim.” “Muitos dizem que o
Restart faz letras medíocres e que não sabe tocar, mas não é bem
assim”, diz Maynard. Na avaliação do empresário, eles escrevem sobre a
realidade dos fãs. “Nos anos 1960, os Beatles escreviam letras simples
sobre o amor”, afirma. A ideia de fazer um longa-metragem com o Restart
foi inspirada nos quatro garotos de Liverpool.
NASCE UMA MARCA Com
o aumento da visibilidade, iniciar a venda de produtos licenciados foi
um passo. A empresa contratada para essa empreitada foi a Angelotti.
“Quando iniciamos o projeto, em 2010, eles já faziam um sucesso
impressionante na internet”, afirma Luiz Angelotti, sócio da
licenciadora. Mesmo assim, foi difícil convencer as redes varejistas e
as empresas de que valia a pena investir na marca Restart. Motivo? O
grupo nunca havia aparecido na televisão. “Na época, as redes sociais
não estavam no radar dos presidentes de empresas, como acontece hoje”,
afirma Angelotti.
Com o sucesso, foi criada uma loja virtual, a Restart Shop, para comercializar os produtos, algo incomum no universo musical. O
quarteto também engorda a conta bancária participando de campanhas
publicitárias. Em 2011, participou de uma ação de marketing da linha de
sucos Skinka, do grupo Schincariol. As redes sociais foram
fundamentais na campanha. Se é verdade que o Restart tem em Maynard o
seu Brian Epstein, o empresário que impulsionou os Beatles, também é
preciso lembrar que os garotos não estão alheios à própria carreira.
Antenados, opinam sobre o que vão vender. “Temos controle de tudo”, diz
Pe Lu. “Assim como a música, os produtos também precisam ter a nossa
cara.”

